FMI destaca possível bolha imobiliária no país e compara com os
Estados Unidos que, em 2008, tinha pequena parte da população com dívidas no
setor.
O Fundo Monetário Internacional (FMI), em relatório divulgado na sexta-feira
(20/7), afirmou que o crédito no Brasil cresceu rapidamente nos últimos anos,
mas os empréstimos em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) estão diminuindo
desde 2008 e deve continuar relativamente baixo em relação aos padrões internacionais.
O documento aponta que a concessão de crédito ao consumidor tem aumentado
fortemente, o que corresponde hoje a 46% do total, contra 23% em 2002. Diante
deste avanço, o Fundo alerta para o endividamento dos consumidores, que excede
40% da renda.
O FMI destaca ainda os empréstimos imobiliários para a baixa renda e a forma
de concessão, questionando se essas famílias conseguirão quitar as dívidas.
"Vejo que o FMI está fazendo esse alerta para o futuro, pois está comparando
com o que já aconteceu nos Estados Unidos e na Europa. Aqui no Brasil, os
empréstimos imobiliários respondem por apenas 5,5% do PIB, mas nos Estados
Unidos, em 2008, o nicho também era pequeno e quando estourou a crise da dívida
imobiliária, nem US$ 3 trilhões ajudaram e vários bancos quebraram", explicou
Manuel Enriquez Garcia, presidente do Conselho Regional de Economia (CORECON) e
da Ordem dos Economistas do Brasil.
Apesar do número ser baixo, Garcia diz que a política deveria ser modificada.
"O governo não está dando ênfase ao investimento público e o privado está
reduzindo porque a expectativa com o futuro está cada vez pior. Ao invés de
estimular a poupar, o governo incentiva a gastar e é isso que chama a atenção do
FMI".
A falta de estímulos à poupança está preocupando diversos economistas desde o
início do ano. "O que cria riqueza ao país é o investimento. Alavancar os gastos
só é bom no curto prazo", conclui.
De acordo com Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados,
este ponto ainda não preocupa a economia brasileira. Para ele, antes dos
consumidores de baixa renda deixarem de pagar o imóvel, eles vão parar de pagar
outros bens, como os carros. Isso já vem acontecendo, com alguns deles tendo que
devolver o veículo, mas é pontual.
"Um fato que prejudicaria o setor imobiliário seria o aumento do desemprego. Por
enquanto, o crédito imobiliário é muito baixo e os bancos são criteriosos, não
dão crédito a qualquer pessoa como foi nos EUA", ressalta o economista.
No entanto, Vale aponta para possível afrouxamento por parte dos bancos
públicos, que estão afoitos em estimular a economia. "No futuro, isso pode
acontecer. Sempre acreditei que uma crise possível no Brasil viria do
afrouxamento da regulação bancária, mas ainda estamos longe de qualquer coisa
parecida com isso", completa.
Já a sondagem feita pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) sobre o
mercado de crédito é positiva. A entidade antecipa os resultados que serão
anunciados pelo Banco Central nesta quinta-feira (26/7). Segundo a Febraban, se
os números se confirmarem poderá indicar que o esperado processo de retomada da
economia já está em andamento.
A Federação mostra que o crescimento dos empréstimos para pessoa física
deverá ser 1,2% em junho, em relação a maio. Já em relação à pessoa jurídica, a
alta alcançará 2,7% na mesma base de comparação.