CASA ECOLOGICAMENTE CORRETA AJUDA A PRESERVAR O MEIO AMBIENTE COM USO INTELIGENTE DE ENERGIA.
Este ano o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, pediu à população de seu país que tome banhos de apenas três minutos e evite usar ar condicionado para economizar água e energia. Fanfarrice à parte, a intenção é nobre - mas a tarefa é difícil pelo fato de que a salvação do meio ambiente está nas iniciativas pessoais, e não no desejo dos governos. Basta ver o que aconteceu na reunião de cúpula realizada em Copenhague semana passada: ninguém se entende, todos distribuem sorrisos e fica tudo por isso mesmo.
Mas a indústria de tecnologia está fazendo a sua parte, atenta à nova onda sustentável que varre o mundo e que tende a ser um grande mercado no futuro. Por isso, as multinacionais têm investido em soluções mais atraentes (e rentáveis) para tentar economizar o planeta. Uma delas, a Panasonic, convidou a DIGITAL para visitar o protótipo de uma casa em Tóquio com baixa taxa de emissão de gás carbônico - embora, a bem da verdade, a empresa ainda não divulgue números a respeito. São muitas soluções possíveis, hoje disponíveis apenas para o mercado japonês. E não há nem previsão para a chegada desses aparelhos ao Brasil. Mas fomos conferir, para ver como funciona.
'Eco House' foi projetada para abrigar quatro pessoas
A chamada Eco House tem dois andares, 136,9 metros quadrados e foi projetada para abrigar quatro pessoas: um casal de adultos, um idoso e uma criança. Para reduzir a emissão de gás carbônico da casa, o imóvel é mobiliado com aparelhos mais eficientes e dotado de um sistema de geração de energia predominantemente limpa, com baterias para armazenar a eletricidade. Para completar, todos estes elementos estão interligados a um software que mede a produção de energia e o consumo de cada aparelho da residência, monitorando eventuais perdas e desperdícios.
A casa verde utiliza duas fontes para geração de energia. Uma é formada por painéis solares instalados sobre o teto da casa. A outra são células de combustível que geram energia e calor por meio da reação química entre o oxigênio do ar e o hidrogênio extraído do metano proveniente da rede de gás urbana. Esta segunda opção emite 0,43kg de CO2 por kWh gerado, e é empregada para reforçar o suprimento de energia, principalmente quando o tempo não está ensolarado. O calor produzido serve para ferver a água do banho e aquecer o piso.
Os painéis solares fornecem nada menos que 75% da energia consumida pela casa, enquanto as células de combustível suprem o restante. Parte da eletricidade produzida por estes dois meios não é imediatamente consumida e fica armazenada em baterias de íon-lítio, a mesma usada no Prius, carro parcialmente elétrico da Toyota. O objetivo é suprir a casa nos dias de chuva e nos momentos de pico de consumo.
Eletrodomésticos têm sensores inteligentes para evitar desperdício
Para reduzir a necessidade de luz artificial, a Eco House tem enormes janelões que vão do chão ao teto, além de uma claraboia. Quando escurece, entram em ação as lâmpadas led, que gastam cerca de oito vezes menos energia que uma incandescente, segundo a Panasonic. A empresa promete que sua lâmpada "EverLed" dura até 19 anos se usada em média cinco horas e meia por dia. Vendida apenas no Japão, a lâmpada custa o equivalente a R$ 76.
Os eletrodomésticos da casa, da linha ecológica chamada "Eco Navi", são dotados de sensores. A geladeira tem quatro deles, que detectam a iluminação e a temperatura ambiente em torno do aparelho, a abertura e o fechamento das portas e a temperatura dentro dela.
De acordo com as informações captadas pelos sensores, a operação de resfriamento do interior é ajustada. A partir dos dados coletados diariamente, um processador instalado dentro da geladeira identifica um padrão de uso e determina a potência do resfriamento.
Segundo a Panasonic, esses recursos reduzem o consumo de eletricidade do aparelho em até 15% durante o inverno e em até 12% durante o verão, dependendo da frequência e duração de abertura das portas e de quão cheia está a geladeira. O custo dela varia entre 240 mil ienes (cerca de R$ 4.700) e 300 mil ienes (quase R$ 6 mil).
A lavadora e a secadora com recursos Eco Navi também têm sensores que detectam a quantidade de roupa que será lavada e o quão suja elas estão, ajustando assim o tempo de lavagem e a quantidade de água necessários. O aparelho pode cortar o consumo de energia em até 10% e de água em até 7%, calcula a companhia, e seu preço gira em torno de 300 mil ienes.
Já a máquina de lavar e secar louça, que custa cerca de 85 mil ienes (R$ 1.600), tem dois sensores: um para detectar a sujeira e outro o volume de louça, adequando assim a temperatura da água e o tempo de secagem. Com esses mecanismos, é possível usar até 18% menos água e até 13% menos energia do que outras máquinas. Na comparação com a lavagem manual, o equipamento permite economia de 88% do consumo de água.
O ar condicionado é outro aparelho dotado de sensores. Neste caso, eles rastreiam a presença de pessoas no ambiente e acionam ou desligam automaticamente o ar. O aparelho também mede qual a necessidade de refrigeração dependendo da atividade que o morador está desenvolvendo. Ela será mais potente caso a pessoa esteja realizando uma faxina, e mais branda caso esteja apenas assistindo a um filme. Além disso, as paredes e janelas contam com isolamento a vácuo que retém o frio gerado pelo ar condicionado - ou o calor, quando é inverno - aumentando a eficiência do aparelho e reduzindo o consumo de energia.
Outro mecanismo utilizado para diminuir a necessidade da refrigeração ambiente é um sistema que filtra o ar que circula em baixo da casa, utilizando-o para ventilação de seu interior. De acordo com a Panasonic, esse ar que passa sob o imóvel fica naturalmente mais frio no verão porque não está exposto ao sol. Já no inverno, ele fica mais quente devido ao aquecimento dos aposentos da casa.
Na Eco House, o painel de isolamento a vácuo da Panasonic, chamado U-Vacua, também é usado para aumentar a eficiência da geladeira e reduzir o consumo de energia no aquecimento da água. Empregado sob o revestimento da banheira, ele é capaz de conservar a água quente por seis horas, sem grandes mudanças de temperatura. E assim como a pia e a privada, a banheira é feita com um mármore sintético mais resistente a arranhões e manchas, o que facilita a limpeza, diminuindo sua frequência e o consumo de água.
A Panasonic não fala em custo total da casa, pois alguns produtos ainda estão em fase de pesquisa. Segundo o diretor da Divisão de Assuntos Ambientais da Panasonic, Kuniaki Okahara, a empresa acredita que as pessoas aceitarão pagar entre 5% e 10% mais por produtos ecológicos. Ele lembra que, com a redução das contas de luz, água e gás, o investimento pode ser recuperado. O uso das células de combustível, por exemplo, reduzem a conta de gás e eletricidade em 25%, considerando as tarifas do Japão. O produto custa é quatro milhões de ienes (cerca de R$ 79 mil).
- Nós já comercializamos as células de combustível, mas são caras. Acreditamos que, com a produção em massa, o preço pode chegar a 500 mil ienes (cerca de R$ 9.500) - afirmou.
Banheiro japa também tem alta tecnologia
Enquanto a indústria japonesa se esforça para criar meios de poupar energia, com muita facilidade também inventa novas formas de gastá-la. Voar do Rio a Tóquio é pular para o futuro além das 12 horas de fuso. E a experiência futurística pode estar em um lugar mais insólito que os quarteirões hiperiluminados de Shibuya (bairro mais movimentado da capital japonesa): o banheiro. Nos hotéis, assentos sanitários quentinhos são acessório obrigatório.
Mas o luxo tem custo. Segundo a Agência de Recursos Naturais e Energia do Japão, os "assentos higiênicos" eram responsáveis por 3,9% do consumo de energia doméstico do país em 2004 (dado mais recente). Naquele mesmo ano, os carpetes elétricos utilizavam 4,9% dessa energia. Para efeito de comparação, as máquinas de lavar roupa gastavam 2,8% do total. Imagine o que Hugo Chávez diria disso?
om... habitantes dos trópicos podem achar a privada elétrica uma frescura, mas talvez os moradores do Alasca tenham outro ponto de vista. Já os aparelhos de ar-condicionado são mesmo o grande vilão do ecossistema: consumiam 25,2% de toda energia doméstica japonesa há cinco anos.